No final da Idade Média, o homem
vivia imerso em sua mais estúpida barbárie, e as leis eram difusas e a política
descentralizada em razão da existência de vários feudos no “Velho Mundo”. Havia
a necessidade de aglutinação e criação de leis que pudessem “domesticar” a
insanidade humana, que na maioria dos casos levava os indivíduos a praticarem
justiça com as próprias mãos.
Nesse enredo histórico, surge uma
classe social de comerciantes que ascendeu na Idade Média, era a chamada
Burguesia, que rica, mas sem poderes políticos, incentiva a criação da
concepção de “Estado”, para governar e criar leis que pudessem “civilizar” o
homem. Essa troca entre a “liberdade” humana da Idade Média e um “estado controlador
de direito”, foi chamada por Thomas Hobbes, de contrato social, em sua obra
Leviatã.
Hobbes defendia que era
necessária a figura de um Monarca ou de uma Assembleia com poderes ilimitados,
para que o novo modelo político fosse vitorioso. Assim, nasce a figura do
Absolutista, que tinha a sua razão de ser e governar, proferida por Deus, para
dessa forma pacificar o mundo.
Os tempos passaram e o poder do
monarca absoluto foi questionado e ultrapassado, abrindo espaço para novas
políticas que trouxeram uma maior dinamicidade para o aperfeiçoamento da
democracia, que foi criada pelos Gregos na Idade Antiga.
Pois sim, pode causar indagações
o que o absolutismo e a democracia têm a ver com a Taça Bridgestone Libertadores Global Carioca. Tal
qual na Idade Média, o futebol brasileiro passava por um período de insanidade
e descentralização. Insanidade, no termo abstrato da palavra, no mais
fantasioso possível enredo, poderíamos até indagar-nos sobre o que seria do futebol
sem os holofotes da grande mídia?
É necessário descentralizar o
alcance da mídia global para os demais guetos futebolísticos, que também estão
fazendo parte da competição, e de alguma forma compactuam com esse grande
“Circo”.
Com o advento e o desenvolvimento
da mídia televisiva no Brasil, e a necessidade de curar a insanidade e propor a
democratização do futebol no Brasil, eis que a burguesia outra vez entra em
campo, sem nenhum trocadilho ortográfico. Com essa velha-nova aparição, essa
classe social (re)nasce para criar o novo “absolutista”, que com poderes
“divinos”, criará as novas leis que serão seguidas pelo “Reino do Futebol”.
Esse novo Leviatã, em nada buscou
mecanismos na obra de Hobbes, é aqui usado apenas como codinome usurpado do
grande filosofo. Esse novo “monstro” começa a atuar pelo nome de “Organizações
Globo”, e cria uma infinidade de leis que acabam transformando o futebol em
algo tendenciosamente comercial, longe da magia e encantamento, característicos
dos Reinos Medievais, tratados aqui outrora.
O “monstro” Globo dita e edita
regras, e impõe aos telespectadores o “absolutismo esportivo”, na qual o
futebol carioca é regra incontestável, tal qual um dogma irrevogável. Os olhos
do telespectador são “ditatorialmente” levados a contemplar o universo dos
times do Rio de Janeiro, fazendo com que os outros “guetos” esportivos figurem
como meros coadjuvantes do “Absolutismo Global”.
A Taça Bridgestone Libertadores Global Carioca
perderá o seu encanto quando os “cavaleiros flamenguistas e botafoguenses”
forem abatidos de forma cruel por bravos guerreiros de reinos distantes e além
holofotes do “monstro” Globo.
A história é um ciclo que tem
repetições no decorrer das eras, assim como o Absolutismo ruiu como modelo
político, o “Absolutismo Global” também dará espaço para a democratização das
transmissões esportivas no Brasil.
Enquanto isso não acontece, vou
me definindo nesta paráfrase de Fernando Pessoa: Quanto a mim... O amor pelo
futebol passou.... Eu só lhe peço que não faça como gente vulgar, que é sempre
reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma
recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois
conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora
na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num
escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil...
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